Estilista alagoano estreia no SPFW nesta quarta-feira (24).
Mais uma vez a moda e cultura alagoana são destaque internacional no segmento. Nesta quarta-feira (24), o estilista alagoano Antônio Castro faz a sua estreia na São Paulo Fashion Week (SPFW).
Ou melhor, a sua marca, a Foz, é quem ganha os holofotes do maior evento de moda do Brasil e o mais importante da América Latina.
Com um desfile em formato de vídeo, apresentando sua mais recente coleção de inverno intitulada “O Arraial”, Castro leva a tradição nordestina de forma autêntica e exclusiva.
A coleção é inspirada nas noites de junho e nos festejos juninos que se espalham pelo Nordeste durante essa estação. As estampas carregam referências aos milhos, simpatias e promessas feitas aos santos juninos.
A apresentação acontecerá no Shopping Iguatemi São Paulo.
O estilista alagoano estreia na SPFW com uma nova perspectiva sobre o tema da coleção lançada em novembro de 2022, que também trazia fortemente os elementos da cultura nordestina, mas com uma pegada de verão.
Nesta nova coleção, as peças exploram outros aspectos e camadas relacionadas ao tema, buscando ir além dos estereótipos que cercam as festas de São João.
Segundo Castro, a ideia é trazer um pouco do São João que não é visto na televisão, aquele celebrado de forma mais intimista e em família.
“Por isso, representamos os povoados sertanejos e ribeirinhos, que são comuns em muitos lugares e têm suas tradições, mas ainda assim se mantêm contemporâneos. O enredo da coleção é sobre amor e juventude em um sertão contemporâneo”, revelou o designer.
Com essa proposta, a Foz busca apresentar uma visão mais autêntica e próxima da cultura junina, explorando a riqueza das tradições locais em contraste com a modernidade.
Do começo, no Alto Sertão Alagoano
Fundada em 2020 pelo estilista Antonio Castro, Foz é uma marca de moda autoral que reúne tradição e contemporaneidade em peças atemporais que reforçam e refletem as referências da cultura popular brasileira.
Para tanto, o designer se debruça sobre as técnicas artesanais e considera o feito à mão como um elemento central em seus processos de criação.
Formado em Design de Moda com habilitação em Estilismo pelo Centro Universitário Senac, Castro passou a infância e adolescência entre a turística Maceió – onde nasceu – e outras cidades do sertão alagoano.
As primeiras criações vieram por volta dos 14 anos de idade, quando incentivado por uma gincana cultural no colégio começou a desenvolver o figurino de uma peça teatral.
Em 2010, depois de ter desenvolvido algumas peças autorais, reuniu um grupo de amigos, produziu fotos e postou nas redes sociais, chamando a atenção de alguns perfis ligados à moda.
Em 2013, criou um projeto contando a história de sua mãe e sua tia, percorrendo o caminho que elas fizeram saindo de Mata Grande, no Alto Sertão alagoano, até a capital do estado em busca de melhores condições de vida.
O resultado foi uma pequena coleção e um minidocumentário que participou de exposições, se destacou na imprensa local e chegou a ganhar um prêmio no Festival Sururu de Cinema Alagoano, reforçando sua veia criativa.
O artesanato e slow fashion em São Paulo
Já no final do ensino médio e certo de que cursaria moda, decidiu se mudar para estudar em São Paulo.
Durante a faculdade, estagiou com a Fernanda Yamamoto, um dos nomes brasileiros mais proeminentes do slow fashion, um conceito da moda sustentável que defende a fabricação de roupas e vestuário em respeito às pessoas, ao meio ambiente e aos animais — categoria na qual também se enquadra a Foz.
Também trabalhou ao lado de Zizi Carderari, jornalista e designer de produto que é referência no trabalho com comunidades artesanais espalhadas pelo país.
O artesanato, que sempre esteve presente, acabou dando sustentação à criação da Foz em 2020.
Do TCC para a ELLE
Seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi o embrião que serviu para estruturar a estética e o conceito por trás da Foz.
Sua primeira peça, a Bolsa Lourdes, que misturava madeira, couro e o bordado Boa Noite, tradicional de Alagoas, reforçou a ideia de que suas criações precisavam abrigar as referências de sua origem.
A bolsa lhe rendeu, em 2018, antes mesmo do lançamento da Foz, o segundo lugar no 6º Prêmio Objeto Brasileiro, realizado pelo Museu A Casa do Objeto Brasileiro, que reconhece o melhor da produção artesanal no Brasil.
Em 2020 e 2022, com a coleção de lançamento, a marca voltou a ser premiada. As peças foram feitas com artesãs de Entremontes, e com o Kimono Inbordal, desenvolvido em parceria com artesãs do Instituto do Bordado Filé, referências no artesanato alagoano.
“Para mim, o estado de Alagoas é uma fonte inesgotável de inspiração. A ideia é não somente incorporar as técnicas do artesanato tradicional brasileiro, mas também desenvolver junto aos artesãos produtos inovadores com um olhar apurado para o mercado e para as demandas contemporâneas”, diz Castro.
Também em 2022, a Foz foi eleita pela revista ELLE — revista mundial de origem francesa, focada em moda e beleza — como uma das sete marcas de jovens estilistas mais promissoras do mercado nacional.
A Peixaria de Santo Antônio
Desde sua fundação, além da coleção O Arraial, a Foz desenvolveu antes outro projeto: A Peixaria de Santo Antônio.
A linha se inspira na vida ribeirinha, na cultura da pesca e nas calçadas molhadas pela marola que alcança o asfalto onde atracam as jangadas da região de Barra de Santo Antônio, no litoral norte alagoano.
Ainda no ano passado, a marca assinou uma coleção de roupas e acessórios desenvolvida em parceria com Flávia Aranha, boutique paulista de roupas femininas. Em todos os trabalhos, a produção segue os preceitos do slow fashion.
“Se é para ser slow, eu quero ser slow em tudo. Não por necessidade, mas sim por escolha. A ideia é sempre criar apenas uma coleção por ano com duas roupagens, uma para o inverno e outra para o verão”, finaliza.
Desde de janeiro de 2023, a Foz possui um espaço físico na Galeria Metrópole, no Centro de São Paulo, que tem sido retomada por criativos de diversas áreas. Todas as peças também estão disponíveis no site da Foz.
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