Entre livros e telas: como a leitura e o mercado editorial estão se reinventando
A leitura no Brasil está em uma encruzilhada, onde tradições se encontram com as exigências de um mundo cada vez mais digital. Os resultados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 2024 acendem uma luz sobre o que estamos lendo (ou deixando de ler) e mostram como podemos renovar esse hábito tão importante. Enquanto isso, a indústria editorial busca acompanhar as mudanças, reinventando-se para atrair leitores em tempos de transformações rápidas.
O retrato atual da leitura no Brasil
Os números não mentem: menos brasileiros estão lendo. Em 2019, 52% da população dizia ter lido um livro nos últimos três meses; agora, esse número caiu para 47%. Parece pouco, mas significa milhões de leitores a menos. Além disso, estamos lendo menos livros por ano — de 4,95 obras, caímos para 3,96. O que está acontecendo? Pode ser o tempo, ou a falta dele, disputado entre redes sociais, séries e tantas outras distrações modernas.
Mesmo assim, há pontos interessantes nesse cenário. As mulheres continuam liderando entre os leitores, e as crianças ainda são influenciadas pela escola a pegar um livro. Mas à medida que a idade avança, o hábito vai se perdendo. Regionalmente, o Sul segue na frente, enquanto o Norte registrou a maior queda. São diferenças que refletem desafios além da leitura, como desigualdades sociais e econômicas.
Os formatos também estão mudando. Livros digitais e leituras em redes sociais ou aplicativos estão ganhando terreno. Afinal, quem nunca se pegou lendo um poema ou trecho de livro no Instagram? Mas, mesmo com essas opções, o maior vilão ainda é a falta de tempo. Parece que o dia a dia está vencendo a batalha contra as histórias impressas.
O futuro da indústria editorial
No meio desse cenário, o mercado editorial está se movimentando. Diversidade é a palavra do momento: mais histórias de diferentes culturas, vozes e experiências estão começando a ocupar espaço. E não é só uma questão de representatividade — é também uma maneira de atrair novos públicos.
Outra mudança interessante é o deslocamento do mercado para fora dos grandes centros urbanos. Editoras e autores estão mostrando que é possível criar ótimos livros longe das capitais. E com o trabalho remoto ganhando força, essa descentralização só tende a crescer.
Além disso, a conexão direta com o leitor está ganhando destaque. De eventos interativos a booktubers e influenciadores literários, o mercado está percebendo que engajar o público é mais importante do que nunca. E não dá para esquecer das plataformas digitais, como Kindle Unlimited, que estão revolucionando a forma como consumimos livros.
Real Livros. Exemplo de resiliência e inovação
À frente da Real Livros, uma empresa que há mais de 10 anos busca fomentar o hábito da leitura pelo Brasil, está Rustein Dhiego. Com um trabalho marcado pela persistência e inovação, ele tem liderado uma iniciativa que une a tradição de levar livros porta a porta com estratégias modernas de atendimento ao público e parcerias com instituições públicas e privadas.

Rustein compartilha sua visão sobre os desafios e as oportunidades do mercado editorial em um cenário de transformação:
“O hábito da leitura tem se tornado um tema de bastante preocupação no cenário atual. Nunca nos deparamos com tantas livrarias fechadas ou em recuperação judicial. De acordo com a Pesquisa Retratos da Leitura 2024, o número de leitores no Brasil diminuiu significativamente, passando de 104,7 milhões em 2015 para 93,4 milhões em 2024. Isso representa uma redução de 6,7 milhões de leitores em apenas quatro anos.
Os principais desafios apontados para essa diminuição incluem:
– Manter o interesse dos leitores diante da concorrência das redes sociais.
– Oferecer preços acessíveis.
– Desenvolver estratégias de marketing eficazes.
Para reverter essa tendência, especialistas sugerem:
– Políticas públicas eficazes para fomentar a leitura.– Investimento em educação e cultura.
– Criação de programas de incentivo à leitura, como o exemplo português de fornecer 20 euros para jovens comprarem livros.
Muitos livreiros lutam pela lei Cortez que visa limitar os descontos nos primeiros 12 meses dos lançamentos dos livros, algo que ajudaria consideravelmente as editoras e distribuidoras pelo país. Muitas livrarias dependem que o governo promova mais feiras literárias como incentivo à leitura. Nós da Real Livros e Casa Pedagógica estamos sempre inovando e buscando novos formatos para atrair e manter novos clientes. Há mais de 10 anos buscamos sempre divulgar de porta em porta e acreditamos que esse é o segredo do sucesso. Visitamos mais de 500 municípios pelo nordeste com nossas equipes de vendas externas levando produtos exclusivos que não são encontrados na internet. Atendemos clientes de todas as classes sociais e sempre levamos à necessidade da leitura nos locais mais remotos.
Nossos consultores educacionais são treinados para oferecer o que há de melhor em livros infantis, religiosos, devocionais, brinquedos pedagógicos e etc. Temos também consultores que visitam prefeituras, escolas e creches para atender recursos direcionados à educação. Desde 2015 participamos de todos os eventos literários em nossa região e outros estados que somos convidados. Somos parceiros e associados da Andelivros e Abdl (Associação Brasileira de Difusão do Livro) que fomenta esses eventos literários em várias regiões. Acreditamos nesse associativismo e buscamos sempre incentivar o incentivo à leitura em todo o país. Como disse Monteiro Lobato: “um país se faz com homens e livros”.”
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