‘Valor acima das práticas de mercado’, diz especialista sobre compra do HCor

(Foto: Itawi Albuquerque)

(Foto: Itawi Albuquerque)

Com base em metodologia de Múltiplos de Mercado, hospital valeria pouco mais da metade do que foi anunciado.

A Prefeitura de Maceió anunciou, na última sexta-feira (29), a compra do Hospital do Coração, na Gruta de Lourdes, por R$ 266 milhões. Mas, segundo especialistas, o montante investido na aquisição está acima da média praticada no mercado.

O objetivo com a compra, conforme a gestão municipal, é criar o Hospital da Cidade, a primeira casa de saúde pública municipal. A previsão de inauguração é para o início de 2024.

A compra do HCor é referente apenas à estrutura do hospital, não englobando o negócio propriamente dito. Para João Ramalho, especialista em fusões e aquisições, o valor pago pelo Município pela compra é incomum, se comparado ao que é visto no mercado financeiro.

“O valor divulgado está acima das práticas de mercado se considerarmos que seja somente para aquisição do ativo. Não há informações a respeito do quanto daquele montante de R$ 266 milhões foi destinado a essa aquisição e o quanto seria destinado a um projeto de reforma, ampliação e investimento operacional”, explica João Ramalho.

E a precificação?

O especialista ressalta que esta operação em específico se dá de uma forma diferente, não sendo comprado o ativo empresarial em si, mas sim o ativo físico.

“Nas operações de M&A (Fusões e Aquisições) pode ocorrer a aquisição da operação como um todo. No caso dessa compra da Prefeitura de Maceió, o ativo empresarial em si não foi adquirido, e sim a estrutura física do hospital”, pontua João Ramalho.

O assessor de fusões e aquisições João Jucá esclarece que uma das etapas mais comuns em um processo de M&A é a valuation, onde é feita a avaliação do negócio do ponto de visto patrimonial. A segunda etapa é a avaliação do negócio em si, de quanto vale aquela empresa como empreendimento.

“Geralmente a gente usa uma metodologia de avaliação relativa, que a gente vai avaliar comparativo de mercado. Por exemplo, um hospital de Recife foi vendido a uma vez o faturamento do ano. Ou então foi pago cinco vezes o lucro que ele gera no ano. A gente vai fazer uma média pra fazer uma avaliação daquele ativo”, ilustra Jucá.

Valor acima do praticado

De acordo com um relatório emitido pela consultoria XVI Finance publicado em dezembro, entre 2008 e 2022 foram realizadas 100 operações fusões e aquisições de hospitais no Brasil. A quantia média paga foi de R$ 1.550.639 por leito.

Como o Hospital do Coração possui 75 leitos no geral, conforme o portal DataSus, o preço médio do mercado para a unidade custaria R$ 116.297.925, se considerada a metodologia de Múltiplos de Mercado. Ou seja, pouco mais da metade do que foi investido pelo Município de Maceió.

Setor em baixa

No mesmo relatório da XVI Finance, entre 2020 e 2021 foram realizadas mais de 50 operações de aquisições de hospitais no país. Entretanto, segundo João Jucá, em 2023 o setor passou por dificuldades por conta da alta taxa de juros do Brasil.

“Esse movimento de consolidação dos atores privados comprando hospitais este ano praticamente parou. Não teve aquisições por parte desses grupos. De repente, [a Prefeitura] já vinha se preparando. Com esse desaquecimento do setor de aquisições, talvez a venda tenha sido uma oportunidade interessante”, afirmou Jucá.

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